Vamos falar sobre Plant-based - Por Sandra Mian

PLANT BASED – INTRODUÇÃO

Há apenas alguns anos seria difícil imaginar que entraríamos em um restaurante de comida rápida para pedir um hambúrguer … vegetariano! Soa até mesmo um pouco estranho, já que hambúrguer é praticamente sinônimo de carne bovina moída. Mas a realidade é que hoje encontramos “carnes vegetais” até mesmo em redes de fast food. No caso dos laticínios isso é ainda mais evidente: há ‘leite’ de praticamente todo tipo de nozes e sementes. E o melhor de tudo é que os ‘leites’ vegetais hoje, ao contrário do mal afamado ‘leite de soja’ dos anos 70, são deliciosos. 

Os alimentos vegetarianos eram até pouco tempo associados com os hippies dos anos 60 e 70, com seguidores de certas religiões ou ativistas das causas animais. Só que isso mudou muito desde a virada do século 20 ao século 21. Hoje uma pessoa absolutamente comum pode em um dia comer um churrasco e no dia seguinte comer um hambúrguer de carne vegetal. 

Todos nós conhecemos alguém, seja nas nossas próprias famílias, entre os amigos ou colegas de trabalho, pessoas que mudaram completamente de comportamento alimentar e que decidiram se abster de produtos de origem animal, total (os veganos) ou parcialmente (os vegetarianos ou ovo-lacto-vegetarianos). Pode até ser que você que está lendo esse texto seja uma dessas pessoas. 

Mas o que aconteceu para que em tão curto espaço de tempo as pessoas de maior poder aquisitivo, exatamente aquelas que possuem recursos econômicos para consumir produtos de origem animal, estejam optando exatamente pelos produtos opostos, ou seja, pelos PLANT-BASED? 

Algumas respostas nos parecem óbvias: muitas pessoas deixam de consumir produtos animais por questão de consciência: é necessário matar outro ser vivo para se alimentar. Outros vão além e dizem que não é ético ou moral consumir nem mesmo leite ou ovos. Muitos deixaram de consumir carnes ou reduziram seu consumo por questões de saúde e estética. Outros pensam no impacto que a produção animal tem no planeta em termos ecológicos e de sustentabilidade. 

Mais que uma questão de opção pessoal e individual, a questão do consumo ou não de produtos de origem animal é muito mais complexa e com muito mais ramificações do que se pode imaginar à primeira vista. Cada lado defende seu ponto de vista como se fosse a verdade absoluta e já pude inclusive participar de discussões em que os dois lados se atacam de maneira nada pacífica. Nas mídias sociais essas discussões se tornam muito evidentes e ainda mais evidente é o uso de informações errôneas ou distorcidas para justificar esse ou aquele campo. 

Os que defendem a total eliminação do consumo de produtos animais por questões ambientais muitas vezes esquecem que os povos que mais preservam o meio ambiente em geral são onívoros e muitos são caçadores. Outros, por serem urbanos, esquecem que a realidade no campo é muito distinta da vida nas grandes cidades. Há a questão ambiental, sem dúvida alguma, já que a produção animal usa muito mais recursos do planeta além de produzir muito mais CO2 e outros gases de efeito estufa, como o metano. Entretanto não obtemos respostas claras dessas pessoas quando perguntamos se é melhor uma monocultura de soja ou ervilhas para produção de carne vegetal ou uma policultura associada à pequena produção de animais. Ou seja, o problema é muito mais complexo do que parece.

Esse é um típico caso de ‘wicked problem’, problemas complexos cuja solução tanto pode ser impossível quanto pode ter inúmeras respostas. Eu, sendo naturalmente otimista, acredito que a segunda opção – inúmeras respostas – seja a mais provável.

Estamos em um ponto da história em que não é mais possível simplesmente fazer de conta que o problema não existe. A questão do meio ambiente e das mudanças climáticas é mais que evidente e todos os especialistas dizem que o consumo de produtos animais tem relações estreitas com as mudanças climáticas. Aliás, não só os produtos de origem animal, mas cada uma das nossas escolhas têm impactos profundos no ecossistema. Só que essa é apenas uma faceta do problema. Há também a questão da justiça e segurança alimentar e um dos grandes paradoxos do mundo moderno: morrer de fome ou morrer de obesidade. Enquanto parte da população mundial tem sérios problemas de obesidade por consumo excessivo de calorias, outra parte da população global sofre exatamente do problema contrário, ou seja, lhes falta o que comer. Some-se a isso um dos maiores problemas morais e éticos de todos os tempos: cerca de 1/3 de todos os alimentos produzidos, tanto de origem animal quanto vegetal, simplesmente vão para o lixo. O desperdício alimentar é um dos piores males das sociedades atuais. 

É preciso, então, muito cuidado em não gerar dois problemas ao se tentar solucionar um. Me explico: será que a solução para o planeta é realmente eliminar todo o consumo de produtos animais? Já paramos para pensar em todas as causas e efeitos? Já vimos no passado esse mesmo tipo de coisa acontecendo e hoje estamos vivendo com as consequências. Antes dos automóveis o transporte era feito com o uso de cavalos e burros.  Urbanistas, cientistas e outros diziam que se a população das cidades continuasse aumentando, que as cidades se tornariam inviáveis pela quantia de dejetos dos animais de transporte, já que eles teriam que ser em número cada vez maior. Vieram os automóveis e aparentemente o problema foi resolvido. Mas como diziam os jovens atualmente: só que não. Criamos outros problemas ao solucionar o primeiro. 

Einstein colocou certa vez que não podemos tentar solucionar um problema pensando da mesma forma que quando criamos o problema. Como fazer então? Uma das maneiras de se encontrar melhores soluções para um problema é entender a fundo como ele começou, suas causas, suas origens e raízes. A partir desse momento podemos buscar soluções muito mais criativas para solucionar ou ao menos minimizar o problema. 

É isso que estamos, aqui na Planta, nos propondo a fazer. Estamos convidando todos vocês a virem participar de uma ampla discussão sobre esse tema. Vamos juntos fazer um retorno ao passado, buscar as origens desse consumo massivo de produtos animais, cuja explosão ocorreu principalmente depois da Segunda Grande Guerra. Uma das coisas mais complexas e difíceis de mudar são os hábitos alimentares das pessoas. O grande antropólogo brasileiro, Luis da Câmara Cascudo, dizia que é mais fácil mudar o comprimento da saia que de vinho preferido. E como ele tinha razão! Não basta um simples passo de mágica ou um pensamento positivo para fazer com que Argentinos e Gaúchos deixem de uma hora para outra de consumir churrasco. Ou, ainda mais difícil, como vamos fazer com que povos como os Inuit do norte do Canadá ou os Massai da África deixem de consumir produtos animais? Para esses povos os animais são muito mais que o sustento físico, são o próprio arcabouço da sociedade e da cultura em que vivem. Ao mesmo tempo temos que entender todas as contradições que essas colocações. Por exemplo, se fala muito no número de espécies de animais silvestres em vias de extinção mas raramente se fala do número de raças de animais domésticos que desapareceram ou estão em vias de desaparecer. Seriam eles menos importantes que os silvestres? Pode parecer paradoxal, mas uma das únicas maneiras de preservar raças raras de animais domesticados é através do consumo desses animais ou dos seus produtos.

Realmente estamos diante de um wicked problem e se não tivermos a humildade de aceitar que não há uma verdade ou uma solução, vamos provavelmente acabar gerando mais problemas que soluções. 

Nossa proposta aqui na Planta é que juntos façamos uma viagem ao passado, que juntos busquemos entender como as sociedades antigas, que eram sustentáveis e autárquicas e com economia circular, se transformassem até chegarem ao ponto em que estamos hoje. No caso de um alimento tão carregado de simbolismos quanto a carne, temos que entender o que ela significava e o que ela significa ainda hoje para os seus consumidores e para seus detratores. Podemos aprender muito com cada um dos movimentos vegetarianos que a Humanidade viu passar, e eles são inúmeros. Mas seria impossível fazer esse percurso sem inputs de outras áreas. Por isso discutiremos a questão dos produtos plant-based juntamente com outros profissionais, cada um especialista em suas respectivas áreas: nutricionistas, especialistas em inovação e em produção de alimentos e mercado.

A ideia é que essas informações que estaremos trazendo aqui na Planta e as discussões geradas por elas sejam usadas nesse ecossistema de inovação e ideação de alimentos e produtos e serviços alimentares de maneira a criarmos soluções que realmente solucionem problemas sem criar outros mais. Esse espaço é seu também e sua participação e suas ideias são extremamente importantes. Venha você também colocar o seu grãozinho de sal nessa discussão e quem sabe assim, juntos, consigamos fazer o tempero ideal. 

 

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